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Dry Needling e o Acidente Vascular Encefálico

O acidente vascular encefálico (AVE) representa a quarta principal causa de morte no mundo. O AVE acomete o sistema nervoso e pode levar à espasticidade que juntamente com uma série de outros fatores, contribui para o comprometimento funcional.

A espasticidade é um distúrbio sensório-motor, e está associada à restrição na amplitude de movimento (ADM) após AVE. Estudos demonstram que no caso da ADM de ombro, o hemicorpo parético permanece não funcional em cerca de 30 a 66% dos pacientes. Após o primeiro AVE, a espasticidade pode se desenvolver em 42,6% dos casos em até 6 meses e após 12 meses ocorre em 38% dos casos.

Estudos demonstram que as contrações musculares espásticas diminuem o comprimento das células musculares e o número de sarcômeros, e que a restrição da amplitude de movimento passiva poderia ser causada por pontos-gatilho perpetuados pela espasticidade. Evidências também apontam que a redução dessa distrofia muscular poderia amenizar a disfunção.

Dentro desse contexto, diversas abordagens terapêuticas têm sido propostas, e na prática clínica, o dry needling tem sido utilizado como uma ferramenta no tratamento desses pacientes, juntamente com a mobilização articular, técnicas de manipulação e cinesioterapia.

O que há na literatura científica?

Estudos clínicos vem sendo conduzidos para investigar os efeitos do dry needling e assim, diversos relatos de caso tem respaldado o seu papel na redução da rigidez muscular em pacientes com espasticidade.

Em um estudo conduzido em pacientes com lesão medular incompleta, o agulhamento foi eficaz em diminuir a hipertonia, a espasticidade e melhorar a função. Além disso, há evidências do agulhamento em pacientes com ombro hemiparético que apresentaram melhora na distonia. Esses dados corroboram com pesquisadores que investigaram os efeitos do dry needling em pontos-gatilho do infraespinhal e observaram sua eficácia em melhorar a restrição de movimento e em diminuir a dor.

Em membros inferiores, o agulhamento seco dos pontos-gatilho do sóleo foi eficaz em melhorar de forma significante a dorsiflexão do tornozelo, o que corrobora com achados que apontaram para a diminuição imediata após o dry needling na espasticidade nos músculos flexores plantares do tornozelo.

Em um ensaio clínico randomizado atual foi demonstrado que a inclusão de uma única sessão de agulhamento associada ao método Bobath leva à diminuição da espasticidade, melhora do equilíbrio e da amplitude de movimento, melhorando também o deslocamento e controle direcional em pacientes que sofreram AVE.

Além disso, melhorias em propriocepção e equilíbrio após a aplicação de agulhamento foram observados através de posturografia dinâmica computadorizada. Estudos relatam que a diminuição da espasticidade combinada a mecanismos centrais levariam a essas melhorias em mudanças posturais. Esses estudos respaldam a técnica de agulhamento seco de pontos-gatilho para aliviar principalmente a dor e melhorar a amplitude de movimento das articulações relacionadas.

Hipótese de como o Dry Needling atuaria

Como foi dito a espasticidade pode alterar a estrutura do músculo, aumentando a rigidez das células e tecidos musculares. Quando utilizamos o agulhamento seco partimos do pressuposto de que há a alteração da integridade dos tecidos moles e fibras musculares.

Algumas hipóteses da ação do Dry Needling podem ser discutidas, o agulhamento pode estar relacionado a modificações intrínsecas induzidas nos músculos espásticos levando a mudanças estruturais citoesqueleto e redução da actina e miosina entre os filamentos, diminuindo a resistência ao alongar o músculo, o que poderia explicar a melhora da espasticidade muscular e da amplitude passiva de movimento das articulações.

Outra hipótese alternativa é a de que o agulhamento seco  poderia modular a atividade do motoneurônio alfa, modificando a transmissão sináptica de vias musculares para neurônios, diminuindo a excitabilidade de reflexos espinais associados com a espasticidade muscular.

Em relação aos estudos na área, há alguns viés metodológicos e científicos. Faltam estudos na literatura conduzidos por fisioterapeutas, assim como também há escassez de estudos com rigor científico.

 É importante considerarmos o uso do dry needling ao inseri-lo no atendimento de pacientes com espasticidade pós-AVE, não o utilizando como única técnica de tratamento mas agregando seus benefícios ao protocolo de cinesioterapia de escolha. Como em qualquer técnica, sabemos que cada caso é único e a combinação de diferentes abordagens pode levar a melhores resultados.

Autor(a): Doutora em Ciências da Saúde pela UNIFESP Renata Luri – Clínica La Posture

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