Pesquisas apontam os mecanismos relacionados à Liberação Miofascial.
O Colégio Americano de Medicina do Esporte aponta a flexibilidade como sendo um dos cinco componentes mais importantes para a aptidão física. Aumentos na amplitude de movimento articular podem ser benéficos para melhorar o desempenho e reduzir o risco de lesões.
Dentro desse contexto, pesquisas sugerem que a técnica de liberação miofascial combate disfunções do sistema músculo-esquelético e do tecido conjuntivo. É considerada uma abordagem rápida e eficaz para melhorar a flexibilidade dos pacientes. Porém, os mecanismos relacionados a seus benefícios ainda não foram elucidados, e envolve duas teorias:
- O primeiro mecanismo hipotetiza que as técnicas de terapias manuais, sejam estas ativas ou passivas, permitem um remodelamento das estruturas fasciais, como as adesões, piezoeletricidade, viscoelasticidade do tecido e remodelamento das principais estruturas, que compõem o tecido fascial como a elastina e o colágeno. Esse possível remodelamento permitiria uma maior complacência e, consequentemente, maior ganho de amplitude articular.
- O segundo mecanismo proposto possui característica neurofisiológica, o qual indica a influência do sistema nervoso central relacionado a efeitos não-locais: presença de mecanorreceptores dentro do tecido muscular e fascial, os quais exercem efeitos inibitórios; modulação central da percepção de dor; analgesia induzida pelo aumento da liberação hormonal. Esses efeitos justificam o aumento de sua tolerância ao estiramento, o que permite um maior arco articular e flexibilidade.
A utilização da técnica de liberação miofascial em conjunto com exercícios de alongamento parece acelerar o ganho de flexibilidade em praticantes de musculação. Estudos apontam que a melhora em flexibilidade, leva ao aumento de qualidade nos movimentos executados durante os treinos, e promove um maior recrutamento de neuromuscular para execução.
Em outro estudo foi avaliado o impacto da auto aplicação de liberação miofascial com o auxílio de um rolo de espuma em um membro inferior imediatamente após o treinamento intervalado de alta intensidade, sendo a outra perna usada como controle. Os resultados mostraram que a liberação miofascial diminuiu em 50% a dor muscular em comparação à perna controle e aumentou a amplitude de movimento do quadril. Apesar desses resultados positivos, não foram observadas mudanças na recuperação do desempenho inicial.
Outro estudo investigou os efeitos de diferentes volumes e modalidades de auto-liberação na amplitude de movimento passiva do quadril. Os participantes realizaram diferentes técnicas de liberação miofascial por 60 ou 120 segundos. A flexão passiva do quadril e a amplitude de movimento de extensão foram medidas imediatamente, 10, 20 e 30 minutos após cada intervenção. A liberação miofascial foi eficaz em aumentar a amplitude de movimento do quadril, e volumes maiores (120 segundos) produziram maiores aumentos.
Em um estudo crossover, participantes receberam as seguintes intervenções: liberação miofascial, alongamento estático e grupo controle. A amplitude de movimento ativa e passiva máxima da flexão do joelho, rigidez passiva, deslizamento das camadas fasciais, e o ângulo de flexão do joelho da primeira sensação de alongamento percebido subjetivamente foram avaliados antes e após cada intervenção. Nesse estudo foi observado que a liberação miofascial melhorou a amplitude de movimento, sem alterar a rigidez passiva, e modificou a percepção do alongamento e a mobilidade da camada profunda da fáscia lata. Apesar dos resultados positivos ainda faltam dados na literatura científica para embasar todos os benefícios relacionados.
A literatura aponta que o alongamento, de forma aguda, apesar de também promover o aumento da amplitude de movimento, ocasiona prejuízo na geração de força. Por isso, a liberação miofascial surge como uma alternativa de estratégia promissora otimizando os ganhos em amplitude de movimento, sem impactar em força. Na prática clínica, é um recurso que pode ser amplamente utilizado no tratamento dos pacientes.
Colaborador:
Dra Renata Luri, PhD Unifesp e Clínica LA POSTURE
Dra Juliana Satake, Clínica LA POSTURE
Referências:
Acesso em novembro de 2019: https://www.acsm.org/
Adstrum S, Hedley G, Schleip R, Stecco C, Yucesoy CA. Defining the fascial system. J Bodyw Mov Ther 2017;21:173- 7. doi: https://doi.org/10.1016/j.jbmt.2016.11.003 9.
Behm DG1, Wilke J2.Do Self-Myofascial Release Devices Release Myofascia? Rolling Sports Med. 2019 Aug;49(8):1173-1181. doi: 10.1007/s40279-019-01149-y.
Mechanisms: A Narrative Review.
Drinkwater EJ, Latella C, Wilsmore C, Bird SP, Skein M.Foam Rolling as a Recovery Tool Following Eccentric Exercise: Potential Mechanisms Underpinning Changes in Jump Performance.Front Physiol. 2019 Jun 26;10:768. doi: 10.3389/fphys.2019.00768. eCollection 2019.
Eriksson Crommert M, Lacourpaile L, Heales LJ, Tucjer K, Hug F. Massage induces an immediate, albeit shortterm, reduction in muscle stiffness. Scan J Med Sci Sports 2015;25:490-6. doi: 10.1111/sms.12341
Sousa, P. A. C., Araújo, V. A., Morais, N. A., Souza, E. S., & Cruz, R. A. R. S. (2017). Influência da autolibertação miofascial sobre a flexibilidade e força de atletas de ginástica rítmica. Revista Brasileira de Pesquisa em Ciências da Saúde, 4(1), 18-25.
Stecco C, Schleip R. A fascia and the fascial system. J Bodyw Mov Ther 2016;20:139-40. doi: 10.1016/j.jbmt.2015.11.012 8
Krause F, Wilke J, Niederer D, Vogt L, Banzer W.Acute effects of foam rolling on passive stiffness, stretch sensation and fascial sliding: A randomized controlled trial.Hum Mov Sci. 2019 Oct;67:102514. doi: 10.1016/j.humov.2019.102514. Epub 2019 Sep 26.
Laffaye G, Da Silva D, Delafontaine A.Self-Myofascial Release Effect With Foam Rolling on Recovery After High-Intensity Interval Training.Front Physiol. 2019 Oct 16;10:1287. doi: 10.3389/fphys.2019.01287. eCollection 2019.
Monteiro, da Silva Novaes J, Cavanaugh MT, Hoogenboom BJ, Steele J, Vingren JL, Škarabot J.Quadriceps foam rolling and rolling massage increases hip flexion and extension passive range-of-motion.J Bodyw Mov Ther. 2019 Jul;23(3):575-580. doi: 10.1016/j.jbmt.2019.01.008. Epub 2019 Jan 29.
Vigotsky AD, Lehman GJ, Contreras B, Beardsley C, Chung B, Feser EH. Acute effects of anterior thigh foam rolling on hip angle, knee angle, and rectus femoris length in the modified Thomas test. PeerJ 3 2015;3:e1281. doi 10.7717/ peerj.1281.